sábado, 30 de novembro de 2013

Comunicação - o conceito

O conceito

Hoje em dia utiliza-se a palavra comunicação para descrever processos variados, que passam pela “comunicação” através dos mass media até à troca de informações numa conversa de café. Na verdade, apesar de ambos os processos serem considerados como comunicação, existem diferenças enormes entre eles. Enquanto que na rádio, televisão, jornais e outros meios, há uma transmissão unidireccional, que se pode incluir no modelo postulado por Shannon e Wever assim como no de  Gerbner e de Lasswell, na conversa de café a transmissão é bidirecional, havendo retroacção constante não só da comunicação verbal mas também da visual. Podemos ir mais longe e considerar como comunicação a forma de vestir, pentear, andar… A lista é interminável e Nadel afirma encontrarem-se espartilhadas as definições de comunicação e “certos autores admitem uma definição extensiva, assimilando a comunicação a qualquer forma de interacção entre organismos vivos” enquanto outros “restringem a definição de comunicação aos casos em que a troca se baseia sobre uma intenção comunicativa” podendo mesmo visar produzir “efeitos, intencionais ou não, sobre o interlocutor” (in, Beaudichon, 2001:30).
Rosa (1994: 167-168) fala de dois tipos de comunicação: a unilateral "que pode parecer mais eficiente e definida" é usada, sobretudo por quem manda, reduzindo a ansiedade no patrão, chefe ou professor, que terá tendência a pensar que está tudo bem pois as decisões não são questionadas. Porém, refere o mesmo autor,  "é duvidoso que conduza a resultados satisfatórios e a sua eficácia é problemática, principalmente quando a mão de obra tem elevada qualificação". E a comunicação nos dois sentidos que "pode ser mais lenta […] mas é mais exacta, consensual e assumida" mas conduz a maior ansiedade porque "questionar é confrontar o outro com a sua própria fragilidade".
No caso do presente estudo interessa-nos essencialmente a segunda definição. Assim sendo, comunicar é palavra que usamos no dia a dia e que provém do latim comunicare que significa “dividir alguma coisa com alguém” (Costa, 1999: 396). Podemos concluir que comunicar é a “troca de ideias, sentimentos e experiências entre pessoas que conhecem o significado daquilo que se diz e do que se faz ou que se pensa” (Cardim, 1990: 12). Estas definições são idênticas à que apresenta Teixeira (1998: 159) que afirma que a “comunicação é um processo de transferência de informações, ideias, conhecimentos ou sentimentos entre pessoas” e Goetsch (1997) refere que comunicação "is the transfer of message (information, idea, emotion, intent, feeling, or something else) that is both received and understood".
Nesta perspectiva o homem aparece implicado numa corrente contínua de trocas e relações com o mundo exterior o que significa que ele nunca deixa de comunicar, ele é em primeiro lugar um ser comunicante (Breton 1992) .
É clara a diferença que existe entre comunicação e informação. A segunda pretende pôr alguém ao corrente de algo que desconhece (Cardim, 1990), enquanto na comunicação é necessário uma retroacção. Para Teixeira (1998: 160) é o retorno da informação “que permite ao emissor verificar se a comunicação foi ou não perfeitamente recepcionada”. Em ambos os casos há um emissor e um receptor mas a relação entre os dois é diferente. Ou como refere  Curvelo (1997) “Comunicação é, antes de tudo, interacção, diálogo, tornar comum. Não pode ser confundida com a simples transmissão unilateral de informações”. Também Chiavenato (1999: 518-519) e Sfez (1992:173) referem que comunicar significa tornar algo em comum, continuando Chiavenato a dizer  que "a comunicação é uma ponte que transporta esse algo de uma pessoa a outra ou de uma organização a outra" e acrescenta que "comunicação é o processo pelo qual a informação é intercambiada e compartilhada por duas ou mais pessoas, geralmente com intenção de influenciar o comportamento", salientando que a diferença entre enviar e compartilhar "é crucial para a comunicação eficaz".
Dias distingue, claramente, comunicação de informação, referindo que :
"Se a informação é caracterizada por uma relação unívoca entre emissor e receptor, o processo de comunicação distingue-se desta por uma relação biunívoca, o mesmo é dizer por um circuito bilateral, no qual a resposta do receptor retroalimenta a acção do emissor" (DIAS).
No entanto, devemos ter em consideração a forma como essa biunivocidade ocorre. Ela pode decorrer de um processo em que haja um feedback formal e, aí, o emissor deixa de ter um verdadeiro conhecimento de como a informação que emitiu foi compreendida e, se nela estava incluída uma ordem, de que maneira foi executada, já que o que lhe chega pode, por exemplo, ser apenas um relatório feito pelo receptor que, não sabendo se cumpriu a ordem, também fica sem saber se o emissor compreenderá o relatório. Tal como diz Petit (1998: 48) o discurso do executor pode ser "executei o meu trabalho, aqui está o relatório. Que não me venham pedir mais. Não tenho que me empenhar mais no meu trabalho e na minha relação com o chefe". O chefe por sua vez teria pensado "eu sou o chefe. Aqui está uma ordem que deveis executar sem discussão, porque sois o subordinado. Discutir seria por em causa o meu poder" (Petit, 1998: 47). Para este autor "é inútil insistir no facto de tais situações de comunicação continuarem a ser comuns nas organizações" referindo que não se trata de comunicação recíproca que pressuporia "um jogo de poder entre os actores", uma discussão entre o chefe e o subordinado com o objectivo de "esclarecer as decisões e as acções ulteriores".
As organizações deverão proporcionar momentos de feedback real, já que "people work better they understand what the company is doing and why" (Jefkins, 1998: 141) e segundo Petit (1998: 49) para que "seja percebido como tal, cada interlocutor deve poder retirar uma vantagem tangível da sua participação na comunicação recíproca" e esta "não poderá ser um fim em si, mas simultaneamente um meio – entre outros – e um resultado da transformação da organização" Este tipo de comunicação tem, no entanto, o inconveniente de ser mais lenta do que quando a informação circula num só sentido.
A comunicação tem funções e objectivos que são evidentes e outros que por vezes passam despercebidos.
Rocha (1997) refere que "a comunicação desempenha o papel de coordenador do puzzle organizativo". Concretizando, o autor diz que " não basta uma estrutura e pessoas encaixadas nessa estrutura; para que a organização funcione é necessário que a informação circule". Há necessidade de comunicar para obter conhecimentos e para os transmitir. Só através da comunicação podemos formular opiniões e juízos acerca da realidade que nos rodeia e que vai evoluindo (Fachada, 2000), mas também é através da comunicação que persuadimos e motivamos, procurando assim ajustar atitudes e comportamentos (Dias, __).
Por outro lado a comunicação é imprescindível para promover a transmissão de geração em geração, a nossa herança social e cultural, permitindo que aconteça o processo de socialização. O último aspecto a que Fachada (2000: 53) se refere tem a ver com a distracção. Para a autora esta função “será tanto mais diversificada e utilizada quanto mais elevada for a qualidade de vida dos grupos”. Mas a comunicação também serve para evitar conflitos, como refere Fonseca (2000:142) "um dos principais motivos que estão na origem dos conflitos na organização é a ausência de uma política de comunicação e de difusão de informação a todos os níveis". Para Petit (1998: 35)  "a comunicação revela-se indispensável ao funcionamento da organização para assegurar a eficácia do seu sistema técnico, a manutenção de um mínimo de interdependência entre os diferentes elementos (…) do seu sistema interno" e a comunicação é imprescindível para que ocorra abertura da organização ao meio  e, para Price (1997), a "effective communication facilitates coherence". Não podemos esquecer, tal como refere Citeau (2000), que a comunicação permite restaurar a confiança e promover o conhecimento em torno da organização, para além de favorecer a expressão do pessoal e fazer conhecer as iniciativas e o sucesso das equipas de trabalho. Já Díaz refere que as escolas eficazes conjugam várias características e entre elas refere a "comunicação máxima entre professores e alunos" (2003:17).

A comunicação mostra-se imprescindível para o bom funcionamento das organizações. 
Extrato de :
A COMUNICAÇÃO DOCENTE NOS AGRUPAMENTOS DE VILA NOVA DE GAIA
Autor : Henrique Manuel Salgado Almeida
Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de mestre em Ciências da Educação
 - Especialização em  ­­­­­­­­­­­­Administração e Organização Escolar -
2005

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