sábado, 30 de novembro de 2013

Fluxos de comunicação nas organizações.

            A comunicação é imprescindível para o bom funcionamento das organizações. É, no entanto, necessário saber "até que ponto as organizações estão preparadas para gerir os seus processos de comunicação" (Silva, 2003 : 56).
  Numa organização a informação pode seguir o padrão da hierarquia e, neste caso, dizemos estar perante uma comunicação descendente. Pode fazer-se em sentido contrário, isto é, partir das posições hierárquicas inferiores para as superiores, e falamos de comunicação ascendente que "é geralmente informal e pode facilmente ser bloqueada se o sistema tiver grande rigidez autocrática" (Rosa, 1994: 168), ou ainda, pode ocorrer entre elementos com o mesmo nível hierárquico referindo-nos nesse caso a uma comunicação horizontal.
      Passemos a analisar cada um destes tipos de comunicação.
   As comunicações descendentes ocorrem de superior para subordinado; e atendendo a que a maior parte das vezes a informação tem por finalidade uma acção, é importante que ela atinja os destinatátiros pelas vias que sejam ao mesmo tempo as mais rápidas e as mais apropriadas (Gondrand, 1983). O mesmo autor explica que é necessário usar, por um lado, as vias mais rápidas, pois a informação perde interesse com o tempo, e, por outro, as mais apropriadas, entendendo-as como aquelas que são credíveis e mais próprias para convencer o receptor.
     A comunicação descendente pode ser feita directamente dos responsáveis máximos da organização para os restantes membros, ou pode passar por uma rede hierárquica. Na primeira situação há vantagens relativas à velocidade e fiabilidade da mensagem que chega a cada um dos receptores. O segundo caso pode ser preferível, em algumas circunstâncias, por dois motivos: a hierarquia, segundo Gondrand (1983:115) facilita a adaptação da mensagem ao público, já que o receptor vai reagir à forma como a mensagem lhe chega, e o seu superior hierárquico será a pessoa mais bem posicionada para lhe transmitir a mensagem, pois conhece os seus colaboradores; o outro motivo tem a ver com o número de pessoas que cada superior hierárquico tem que contactar, ao ser menor esse público, facilita o diálogo e o feedback, o que permite uma maior fiabilidade. Esta situação exige que os responsáveis intermédios compreendam e estejam preparados para assumir a sua função de comunicadores para que as mensagens não fiquem bloqueadas algures na rede. Esta situação pode dever-se quer a que "les chefs de service peuvent penser que se qu'ils apprennent en reúnion ne concerne pas vraiment leurs collaborateus" (Gondrand, 1983: 117), mas também ao facto  de a informação poder ser vista "como uma fonte de poder"[1] (idem) e por isso a decisão de guardar ou divulgar essa informação pode parecer sinónimo de exercer o poder.
Pode ainda haver uma filtragem da informação e o emissor guardar alguns elementos para si, podendo usá-los em momentos mais oportunos de forma a manter o prestígio, tal como se pode ler em Pangloss nº 30 (p- 116) "pour asseoir son autorité, le dirigeant ou tout détenteur d'une information particulière, peut ne communiquer qu'avec parcimonie et uniquement dans une échange d'ordres et de comptes-rendus d'exécution". Ainda segundo Gondrad, é corrente ocorrer retenção de informação mas não nos podemos esquecer que "ignorer la puissance conférée par la maîtrise de l'information est une source majeure  de péril" (Pangloss)  e "l'absence de sélectivité dans la communication peut conduire à l'immobilisme" já que "la diffusion spontanée, mal orchestrée de trop d'information accentue les craintes au lieu de les éteindre".
Para  Katz ( 1987 : 262)  as comunicações descendentes são basicamente de cinco tipos :
"1. Directivas específicas de tarefa: instruções de cargo.
2. Informação destinada a produzir compreensão da tarefa e sua relação com outras tarefas organizacionais: lógica do cargo.
3. Informações sobre procedimentos e práticas organizacionais.
4. Feedback para o subordinado sobre o seu desempenho.
5. Informação de carácter ideológico para inculcar um senso de missão: doutrinação e metas”.
Ferreira (2001: 371) refere que este tipo de comunicações é usado para “informar os diferentes participantes sobre a cultura da organização, as características gerais do negócio, da envolvente externa ou de práticas específicas da organização, (…), dar informações gerais sobre cultura, o negócio e a estratégia da empresa”. Este tipo de comunicação, segundo Peretti (1998: 482), “é vital para evitar ruídos que podem, a qualquer momento, gangrenar o tecido social”; ela “irriga e anima a comunidade de trabalho, mantendo a sua coesão”. E o mesmo autor ainda refere que este tipo de informação “veicula as instruções regulamentares, os procedimentos e outras informações técnicas que permitem a todos, nas melhores condições, a execução das tarefas específicas a cada um”. Para promover a comunicação as organizações podem usar as redes informais, que no entanto se apresentam como um “mecanismo [que] pode ser perigoso para o funcionamento da organização, pois pode fundamentar-se em pressupostos e valores opostos aos defendidos pela organização” (Ferreira, 2001: 372). No entanto, estas redes não podem ser ignoradas pelos gestores devido às suas características,  já que “as informações são transmitidas em todas as direcções, a comunicação é muito mais rápida (…), é selectivo em relação aos destinatários (…) funciona para além dos muros da empresa” (Teixeira, 1998 : 165)
Não usando as redes informais o gestor terá que se contentar com os mecanismos formais para transmissão de informação.
   No fluxo ascendente "parte da informação e das interacções surgem por iniciativa da hierarquia" e "outra parte é produto da iniciativa dos inferiores hierárquicos" (Guerra, 2002:90). No entanto o fluxo é consideravelmente reduzido sendo, normalmente, considerado muito importante nas organizações em que se pratica uma gestão participativa e "é muitas vezes necessário para uma boa tomada de decisões" (Donnely, 2000: 382). Este caracteriza-se “pela existência de um sistema de meios destinados a solicitar a opinião dos assalariados ou a dar-lhes a oportunidade de se exprimirem espontaneamente” (Peretti,  1998 : 482). Porém, neste fluxo a informação está sujeita a “ déformations, puisqu’elle passe obligatoirement par des filtres: ceux des cadres ou des agents de maîtrise. Or plus les relais est élevé, plus ces risques sont grands” (Gondrand, 1983:28). Este fluxo tem por objectivo “intervir na resolução de problemas encontrados [pelos empregados] no seu trabalho, ou na organização no seu conjunto” (Ferreira, 2001: 373), mas limitado pela estrutura hierárquica pois, como diz Katz (1987: 268), os executivos “têm menos o hábito de ouvir os subordinados do que de dizer-lhes algo” e por sua vez os subordinados “entram nesse padrão de papel e mais esperam ouvir de seus chefes do que fazerem-se ouvir” o que normalmente só ocorre entre o subordinado e o seu supervisor imediato. Por outro lado "elimina-se o que pode irritar a hierarquia, o que pode resultar contraproducente ou o que pode ser censurado" (Guerra, 2002:90). No entanto qualquer líder espera obter um feedback das suas comunicações, apesar desse feedback poder estar adulterado, pois os subordinados sabem que pode ser usado como forma de controlo e, por isso, fazem chegar ao chefe não só o que ele deseja ouvir mas também o que eles desejam que o chefe ouça. Este sistema também é importante “para dar expressão ao efectivo envolvimento dos trabalhadores” (Teixeira, 1998 : 163), fazendo chegar ao conhecimento dos “níveis de decisão(…) as necessidades, as preocupações, as aspirações e as propostas do pessoal” (Peretti, 1998 : 492), mas também servindo de controlo. É claro que “quanto mais pesada no topo seja a estrutura organizacional e quanto mais controlo seja exercido através de pressões e sanções, tanto menos adequado será o fluxo de informação linha a cima” (Katz, 1987: 269).
   As organizações possuem técnicas para permitir o fluxo ascendente que abordaremos mais adiante.
A comunicação horizontal refere-se “às trocas de informação que ocorrem entre departamentos e funções distintas ao mesmo nível hierárquico; tem como objectivo fundamental coordenar as actividades entre essas unidades” (Ferreira, 2001: 375), ou segundo Guerra (2002:91), "proporciona o volume de coordenação necessário para os indivíduos que trabalham em tarefas independentes".  Reveste-se de uma importância extraordinária pois, tal como esvreve Katz (1987: 266), “as organizações enfrentam um dos seus problemas mais difíceis nos procedimentos e práticas que dizem respeito à comunicação horizontal”, o que é reafirmado por Ferreira (2001: 375) quando refere que “ o sucesso das organizações depende da capacidade de cada departamento ou função ter a capacidade de escutar as necessidades ou problemas dos outros, assumindo-os como clientes internos” e por Petit (1998: 51) quando afirma que "o bom funcionamento de uma organização está fortemente correlacionado com a existência de comunicações horizontais". Este tipo de comunicação “permet, (…) de dégager une information ascendante, dans la mesure où elle facilite la communication entre les membres de l’entreprise e développe leurs capacités d’initiative"  (Gondrand, 1983 :32). É, no entanto, de atender a que as comunicações horizontais não são naturais (Petit, 1998: 51). Este autor afirma mesmo que se “sabe por meio de importantes trabalhos em psicologia social que se desenvolvem espontaneamente fenómenos de rejeição que favorecem a coesão de cada grupo".
Como temas da comunicação horizontal podemos referir os comentários sobre outros departamentos, interacções relativamente à tarefa desenvolvida,  coscuvilhices, rumores, interacções relativamente à vida pessoal, comparações, injúrias, rixas (Guerra, 2002).
Na organização é clara a existência de duas estruturas: uma formal e outra informal. A primeira compreende relações de autoridade e responsabilidade estando voltada para a consecução dos objectivos da empresa e para isso usando os recursos materiais e humanos. Por outro lado a informal “peut favoriser, contrarier ou être indifférente à l’atteinte des objectifs” (Gondrand, 1983: 69) e é preciso compreender que este segundo circuito é “beaucoup plus profonde et plus resistente que la struture apparente” (Idem). Como que colados a estas estruturas podemos encontrar dois sistemas de comunicação, um também ele formal e outro informal, ambos partilhando o mesmo espaço, usando os meios disponíveis e podendo ser uma mais valia se actuarem em conjunto. Ao falarmos de comunicação informal não nos podemos esquecer que, por vezes,  os líderes se esquecem que existe uma forma espontânea de comunicação ascendente que é o boato, que, como diz Gondrad (1983 : 38) “lorsque les réseaux formels ne jouent pas leur rôle d’information, les réseaux informels s’amplifient et propagent des rumeurs qui se substituent à l’information objective”. Também Citeux (2000 : 143) afirma que "le management délivre trop souvent des messages normatifs et orientés qui ont du mal à trover un écho positif auprès des salariés qui finissent par accorder plus de crédit à la rumeur", o que vai fazer com que "les groupes sociaux choisissent d'autres formes d'expression plus souterraines, mais aussi plus néfastes à la cohérence de l'entreprise" (Gondran, 1983). Para Petit (1998 : 53) as redes informais constituem "o óleo que permite à organização funcionar sem grandes chiadeiras"; a emergência de soluções técnicas aumenta a fiabilidade do sistema e a sua eficácia. Mas Citeux (2000 : 145) é mais cauteloso, referindo que é necessário saber se estas redes informais  "sont complémentaires ou bien concurrents de la structure formelle" e, neste último caso, "constitueront une dérive symptomatique  de contre-pouvoirs implicites qui pourront donner lieu à toutes sortes de distorsions des messages"  





[1] Tradução nossa

Extrato de :
A COMUNICAÇÃO DOCENTE NOS AGRUPAMENTOS DE VILA NOVA DE GAIA
Autor : Henrique Manuel Salgado Aleida
Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de mestre em Ciências da Educação
 - Especialização em  ­­­­­­­­­­­­Administração e Organização Escolar -
2005

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