O conceito
Hoje
em dia utiliza-se a palavra comunicação para descrever processos variados, que
passam pela “comunicação” através dos mass
media até à troca de informações numa conversa de café. Na verdade, apesar
de ambos os processos serem considerados como comunicação, existem diferenças
enormes entre eles. Enquanto que na rádio, televisão, jornais e outros meios, há
uma transmissão unidireccional, que se pode incluir no modelo postulado por
Shannon e Wever assim como no de Gerbner
e de Lasswell, na conversa de café a transmissão é bidirecional, havendo
retroacção constante não só da comunicação verbal mas também da visual. Podemos
ir mais longe e considerar como comunicação a forma de vestir, pentear, andar…
A lista é interminável e Nadel afirma encontrarem-se espartilhadas as
definições de comunicação e “certos autores admitem uma definição extensiva,
assimilando a comunicação a qualquer forma de interacção entre organismos
vivos” enquanto outros “restringem a definição de comunicação aos casos em que
a troca se baseia sobre uma intenção comunicativa” podendo mesmo visar produzir
“efeitos, intencionais ou não, sobre o interlocutor” (in, Beaudichon, 2001:30).
Rosa (1994: 167-168) fala de dois tipos de comunicação: a unilateral
"que pode parecer mais eficiente e definida" é usada, sobretudo por
quem manda, reduzindo a ansiedade no patrão, chefe ou professor, que terá
tendência a pensar que está tudo bem pois as decisões não são questionadas. Porém,
refere o mesmo autor, "é duvidoso
que conduza a resultados satisfatórios e a sua eficácia é problemática,
principalmente quando a mão de obra tem elevada qualificação". E a
comunicação nos dois sentidos que "pode ser mais lenta […] mas é mais
exacta, consensual e assumida" mas conduz a maior ansiedade porque
"questionar é confrontar o outro com a sua própria fragilidade".
No caso do presente estudo interessa-nos essencialmente a segunda
definição. Assim sendo, comunicar é palavra que usamos no dia a dia e que
provém do latim comunicare que
significa “dividir alguma coisa com alguém” (Costa, 1999: 396). Podemos
concluir que comunicar é a “troca de ideias, sentimentos e experiências entre
pessoas que conhecem o significado daquilo que se diz e do que se faz ou que se
pensa” (Cardim, 1990: 12). Estas definições são idênticas à que apresenta
Teixeira (1998: 159) que afirma que a “comunicação é um processo de
transferência de informações, ideias, conhecimentos ou sentimentos entre
pessoas” e Goetsch (1997) refere que comunicação "is the transfer of
message (information, idea, emotion, intent, feeling, or something else) that
is both received and understood".
Nesta
perspectiva o homem aparece implicado numa corrente contínua de trocas e
relações com o mundo exterior o que significa que ele nunca deixa de comunicar,
ele é em primeiro lugar um ser comunicante (Breton 1992) .
É clara a diferença que existe entre comunicação e informação. A segunda
pretende pôr alguém ao corrente de algo que desconhece (Cardim, 1990), enquanto
na comunicação é necessário uma retroacção. Para Teixeira (1998: 160) é o
retorno da informação “que permite ao emissor verificar se a comunicação foi ou
não perfeitamente recepcionada”. Em ambos os casos há um emissor e um receptor
mas a relação entre os dois é diferente. Ou como refere Curvelo (1997) “Comunicação é, antes de tudo,
interacção, diálogo, tornar comum. Não pode ser confundida com a simples transmissão
unilateral de informações”. Também Chiavenato (1999: 518-519) e Sfez (1992:173)
referem que comunicar significa tornar algo em comum, continuando Chiavenato a
dizer que "a comunicação é uma
ponte que transporta esse algo de uma pessoa a outra ou de uma organização a
outra" e acrescenta que "comunicação é o processo pelo qual a
informação é intercambiada e compartilhada por duas ou mais pessoas, geralmente
com intenção de influenciar o comportamento", salientando que a diferença
entre enviar e compartilhar "é crucial para a comunicação eficaz".
Dias distingue, claramente, comunicação de informação, referindo que :
"Se a informação é caracterizada por uma relação unívoca entre emissor
e receptor, o processo de comunicação distingue-se desta por uma relação
biunívoca, o mesmo é dizer por um circuito bilateral, no qual a resposta do
receptor retroalimenta a acção do emissor" (DIAS).
No entanto, devemos ter em consideração a forma como essa biunivocidade
ocorre. Ela pode decorrer de um processo em que haja um feedback formal e, aí, o emissor deixa de ter um verdadeiro
conhecimento de como a informação que emitiu foi compreendida e, se nela estava
incluída uma ordem, de que maneira foi executada, já que o que lhe chega pode,
por exemplo, ser apenas um relatório feito pelo receptor que, não sabendo se
cumpriu a ordem, também fica sem saber se o emissor compreenderá o relatório.
Tal como diz Petit (1998: 48) o discurso do executor pode ser "executei o
meu trabalho, aqui está o relatório. Que não me venham pedir mais. Não tenho
que me empenhar mais no meu trabalho e na minha relação com o chefe". O
chefe por sua vez teria pensado "eu sou o chefe. Aqui está uma ordem que
deveis executar sem discussão, porque sois o subordinado. Discutir seria por em
causa o meu poder" (Petit, 1998: 47). Para este autor "é inútil
insistir no facto de tais situações de comunicação continuarem a ser comuns nas
organizações" referindo que não se trata de comunicação recíproca que
pressuporia "um jogo de poder entre os actores", uma discussão entre
o chefe e o subordinado com o objectivo de "esclarecer as decisões e as
acções ulteriores".
As organizações deverão proporcionar momentos de feedback real, já que "people work better they understand what
the company is doing and why" (Jefkins, 1998: 141) e segundo Petit (1998:
49) para que "seja percebido como tal, cada interlocutor deve poder
retirar uma vantagem tangível da sua participação na comunicação
recíproca" e esta "não poderá ser um fim em si, mas simultaneamente
um meio – entre outros – e um resultado da transformação da organização" Este
tipo de comunicação tem, no entanto, o inconveniente de ser mais lenta do que
quando a informação circula num só sentido.
A comunicação tem funções e objectivos que são evidentes e outros que por
vezes passam despercebidos.
Rocha (1997) refere que "a comunicação desempenha o papel de
coordenador do puzzle organizativo". Concretizando, o autor diz que "
não basta uma estrutura e pessoas encaixadas nessa estrutura; para que a
organização funcione é necessário que a informação circule". Há
necessidade de comunicar para obter conhecimentos e para os transmitir. Só
através da comunicação podemos formular opiniões e juízos acerca da realidade
que nos rodeia e que vai evoluindo (Fachada, 2000), mas também é através da
comunicação que persuadimos e motivamos, procurando assim ajustar atitudes e
comportamentos (Dias, __).
Por outro lado a comunicação é imprescindível para promover a transmissão
de geração em geração, a nossa herança social e cultural, permitindo que
aconteça o processo de socialização. O último aspecto a que Fachada (2000: 53)
se refere tem a ver com a distracção. Para a autora esta função “será tanto
mais diversificada e utilizada quanto mais elevada for a qualidade de vida dos
grupos”. Mas a comunicação também serve para evitar conflitos, como refere
Fonseca (2000:142) "um dos principais motivos que estão na origem dos
conflitos na organização é a ausência de uma política de comunicação e de
difusão de informação a todos os níveis". Para Petit (1998: 35) "a comunicação revela-se indispensável ao
funcionamento da organização para assegurar a eficácia do seu sistema técnico,
a manutenção de um mínimo de interdependência entre os diferentes elementos (…)
do seu sistema interno" e a comunicação é imprescindível para que ocorra
abertura da organização ao meio e, para
Price (1997), a "effective communication facilitates coherence". Não
podemos esquecer, tal como refere Citeau (2000), que a comunicação permite
restaurar a confiança e promover o conhecimento em torno da organização, para
além de favorecer a expressão do pessoal e fazer conhecer as iniciativas e o
sucesso das equipas de trabalho. Já Díaz refere que as escolas eficazes
conjugam várias características e entre elas refere a "comunicação máxima
entre professores e alunos" (2003:17).
A comunicação mostra-se imprescindível para o bom funcionamento das
organizações.
Extrato de :
A COMUNICAÇÃO DOCENTE NOS AGRUPAMENTOS DE VILA NOVA DE GAIA
A COMUNICAÇÃO DOCENTE NOS AGRUPAMENTOS DE VILA NOVA DE GAIA
Autor : Henrique Manuel Salgado Almeida
Dissertação
apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de mestre
em Ciências da Educação
-
Especialização em Administração e Organização
Escolar -
2005
2005