terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Conhecimento explícito

O conhecimento explícito é aquele a que podemos ter acesso por se encontrar numa fórmula passível de ser partilhada. É o conhecimento disponível nos livros mas também pode ser disponibilizado na internet, através de meios audiovisuais e por todas as tecnologias da informação.
A nossa sociedade baseia-se neste tipo de conhecimento e procura por todos os meios preserva-lo criando bibliotecas, bases de dados ou sob outras formas. Hoje a evolução da tecnologia permite aceder a uma quantidade enorme deste tipo de conhecimento no entanto, por vezes, é necessário algum cuidado pois nem todos os “recipientes” do conhecimento são fiáveis.
A partilha do conhecimento explícito torna-se imprescindível para que a nossa sociedade continue. Para que isso aconteça hoje despendem-se biliões para que as crianças e os jovens possam aceder ao mesmo. As comunidades organizam-se de formas diferentes para que tal ocorra, no entanto parece um fenómeno universal a necessidade de transmissão do conhecimento aos descendentes.   
Apesar de todos os dias os nossos filhos trazerem para casa os conceitos e conteúdos que abordam na escola, desde a simples tabuada à análise dos autores que são lidos em todo o mundo, passando por todos os conhecimentos derivados da ciência, nós raramente percebemos que o que as crianças e jovens nos estão a dizer é algo que foi construído ao longo de gerações. Os manuais que os nossos filhos usam são o exemplo da explicitação do conhecimento.
 O conhecimento explícito pode ser expresso
           - por símbolos 
- por palavras,
- por números
- por sons
- por dados
- por fórmulas científicas
- por recursos visuais
- por recursos áudio
- por especificações de produtos
- em manuais
-em patentes
Mas também :
- é visível
- é explicável
- comunicável
- é formal
- é sistemático
- pode ser combinado com outro conhecimento explicito

- independente de qualquer individuo.

É o conhecimento que impulsiona a nossa sociedade.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Conhecimento tácito

O conhecimento tácito é o que existe na cabeça das pessoas,"não é facilmente visível e explicável" (Nonaka, 2008)  ganho através da experiência que cada um adquiriu ao longo da vida. Estamos a falar de um conhecimento muito pessoal que é fruto de uma longa experiência, não codificado e por isso mesmo de difícil captação e transmissão.
Numa breve pesquisa pode-se encontrar as seguintes características para este tipo de conhecimento:

  • pessoal
  • difícil de ser codificado 
  • derivado da experiência
  • derivado da convivência
  • de transmissão difícil / complexa
  • necessita de interacções prolongadas acertos e erros
  • tende a ser tácito, físico e subjectivo
  • inconsciente
  • complexo
  • insights e intuição estão nesta categoria de conhecimento
  • é interiorizado e desenvolvido por um conhecedor
  • muito ligado ao modo de agir do possuidor
  • pode descrever habilidades informais
  • pode abranger modelos mentais
  • crença
  • percepções
  • quem o possui, normalmente, não tem consciência disso.
  • diz respeito “à bagagem” de cada um
  • conhecimento vivenciado
  • é dinâmico
  • específico ao contexto 
  • relacionado com a ação humana 
  • difícil de comunicar 

Um exemplo que nos possibilita entender este tipo de conhecimento é o do oleiro que conhece toda a técnica para os produzir os objectos de barro, mas para além dessa técnica utiliza conhecimentos que dificilmente consegue transmitir e que transformam o seu trabalho em algo único.
 A parte do conhecimento que pode ser transposta para um livro, por exemplo a velocidade de rotação da roda, a humidade relativa dos matérias que usa, a temperatura de cozedura, a posição das mãos e braços no momento de construir a peça … faz parte do conhecimento especificável,  no entanto o produto final desse artista é algo divino que dificilmente é repetível, que deriva, essencialmente, do conhecimento tácito não especificável que o oleiro tem e é único para cada indivíduo. Provavelmente nem o oleiro sabe que possui esse conhecimento. 




Parte desse conhecimento poderá ser transmitido pela socialização isto é partilha, interacção, observação, imitação, contacto directo, convivência do oleiro a trabalhar mas mesmo assim há uma parte que muito dificilmente será transmitida.
Um exemplo dessa dificuldade na transmissão do conhecimento tácito é evidenciado pelo formador / professor que sendo um pintor famoso não consegue criar “génios da pintura” iguais a ele.  
No entanto, em termos organizacionais, é imprescindível que ocorra a transformação do conhecimento tácito em especificável, para isso é necessário que ocorra externalização que não é mais do que a passagem desse conhecimento para uma base partilhável.


É importante entender que todos possuímos esse tipo de conhecimento,  provavelmente já sentimos que quando discutimos com um colega e lhe tentamos incutir a nossa visão somos surpreendidos por aspectos que incluímos no nosso conhecimento e que nos levam a reformular parte do mesmo. Essas novas “ideias” ficam retidas e vão noutro momento associar-se a outras que possuímos e reformular as ideias base ou mais superficiais das teorias que pretendíamos transmitir.




Quando colocados em contato ocorre socialização.



Segundo Nokata a socialiação é um dos quatro modos de conversão do conhecimento ( os outros são a externalização, a combinação e e internalização de que falaremos noutro poste). A socialização ocorre entre indivíduos  que compartilham conhecimento  através da experiência. Atendendo a que o conhecimento é criado pelos indivíduos este pode ser considerado o método indutor de todo o conhecimento no entanto se pensado isoladamente "é uma forma bastante limitada  de criação do conhecimento" pois "não pode ser facilmente alavancado pela organização como um todo" ( Nokata, 2008 ). 


A socialização modifica os indivíduos que partilham o conhecimento.




Mesmo que um dos indivíduos não possua conhecimentos na área a simples reacção à “exposição” que o outro faz pode ser suficiente para que o primeiro modifique o seu conhecimento.
Quando valorizamos o conhecimento tácito e a socialização estamos a valorizar cada um dos empregados que trabalham na organização e a transforma-los em motores da inovação. A valorização deste acontecimento passa pela sua disponibilização a todos o que permite que cada um dê um contributo para a melhoria da organização. Mas a socialização não é um processo tão simples como permitir que as pessoa se juntem ou junta-las. Sendo, o conhecimento tácito, altamente pessoal é necessário que os indivíduos estejam motivados para o partilhar, estejam disponíveis e considerem que a troca ou partilha lhe traz algum benefício.
A ênfase no conhecimento tácito pode no entanto, segundo Nokata, ser perigosa devido ao perigo de superadaptação aos sucessos passados e pela armadilha do raciocínio de grupo. 





sábado, 30 de novembro de 2013

Comunicação - o conceito

O conceito

Hoje em dia utiliza-se a palavra comunicação para descrever processos variados, que passam pela “comunicação” através dos mass media até à troca de informações numa conversa de café. Na verdade, apesar de ambos os processos serem considerados como comunicação, existem diferenças enormes entre eles. Enquanto que na rádio, televisão, jornais e outros meios, há uma transmissão unidireccional, que se pode incluir no modelo postulado por Shannon e Wever assim como no de  Gerbner e de Lasswell, na conversa de café a transmissão é bidirecional, havendo retroacção constante não só da comunicação verbal mas também da visual. Podemos ir mais longe e considerar como comunicação a forma de vestir, pentear, andar… A lista é interminável e Nadel afirma encontrarem-se espartilhadas as definições de comunicação e “certos autores admitem uma definição extensiva, assimilando a comunicação a qualquer forma de interacção entre organismos vivos” enquanto outros “restringem a definição de comunicação aos casos em que a troca se baseia sobre uma intenção comunicativa” podendo mesmo visar produzir “efeitos, intencionais ou não, sobre o interlocutor” (in, Beaudichon, 2001:30).
Rosa (1994: 167-168) fala de dois tipos de comunicação: a unilateral "que pode parecer mais eficiente e definida" é usada, sobretudo por quem manda, reduzindo a ansiedade no patrão, chefe ou professor, que terá tendência a pensar que está tudo bem pois as decisões não são questionadas. Porém, refere o mesmo autor,  "é duvidoso que conduza a resultados satisfatórios e a sua eficácia é problemática, principalmente quando a mão de obra tem elevada qualificação". E a comunicação nos dois sentidos que "pode ser mais lenta […] mas é mais exacta, consensual e assumida" mas conduz a maior ansiedade porque "questionar é confrontar o outro com a sua própria fragilidade".
No caso do presente estudo interessa-nos essencialmente a segunda definição. Assim sendo, comunicar é palavra que usamos no dia a dia e que provém do latim comunicare que significa “dividir alguma coisa com alguém” (Costa, 1999: 396). Podemos concluir que comunicar é a “troca de ideias, sentimentos e experiências entre pessoas que conhecem o significado daquilo que se diz e do que se faz ou que se pensa” (Cardim, 1990: 12). Estas definições são idênticas à que apresenta Teixeira (1998: 159) que afirma que a “comunicação é um processo de transferência de informações, ideias, conhecimentos ou sentimentos entre pessoas” e Goetsch (1997) refere que comunicação "is the transfer of message (information, idea, emotion, intent, feeling, or something else) that is both received and understood".
Nesta perspectiva o homem aparece implicado numa corrente contínua de trocas e relações com o mundo exterior o que significa que ele nunca deixa de comunicar, ele é em primeiro lugar um ser comunicante (Breton 1992) .
É clara a diferença que existe entre comunicação e informação. A segunda pretende pôr alguém ao corrente de algo que desconhece (Cardim, 1990), enquanto na comunicação é necessário uma retroacção. Para Teixeira (1998: 160) é o retorno da informação “que permite ao emissor verificar se a comunicação foi ou não perfeitamente recepcionada”. Em ambos os casos há um emissor e um receptor mas a relação entre os dois é diferente. Ou como refere  Curvelo (1997) “Comunicação é, antes de tudo, interacção, diálogo, tornar comum. Não pode ser confundida com a simples transmissão unilateral de informações”. Também Chiavenato (1999: 518-519) e Sfez (1992:173) referem que comunicar significa tornar algo em comum, continuando Chiavenato a dizer  que "a comunicação é uma ponte que transporta esse algo de uma pessoa a outra ou de uma organização a outra" e acrescenta que "comunicação é o processo pelo qual a informação é intercambiada e compartilhada por duas ou mais pessoas, geralmente com intenção de influenciar o comportamento", salientando que a diferença entre enviar e compartilhar "é crucial para a comunicação eficaz".
Dias distingue, claramente, comunicação de informação, referindo que :
"Se a informação é caracterizada por uma relação unívoca entre emissor e receptor, o processo de comunicação distingue-se desta por uma relação biunívoca, o mesmo é dizer por um circuito bilateral, no qual a resposta do receptor retroalimenta a acção do emissor" (DIAS).
No entanto, devemos ter em consideração a forma como essa biunivocidade ocorre. Ela pode decorrer de um processo em que haja um feedback formal e, aí, o emissor deixa de ter um verdadeiro conhecimento de como a informação que emitiu foi compreendida e, se nela estava incluída uma ordem, de que maneira foi executada, já que o que lhe chega pode, por exemplo, ser apenas um relatório feito pelo receptor que, não sabendo se cumpriu a ordem, também fica sem saber se o emissor compreenderá o relatório. Tal como diz Petit (1998: 48) o discurso do executor pode ser "executei o meu trabalho, aqui está o relatório. Que não me venham pedir mais. Não tenho que me empenhar mais no meu trabalho e na minha relação com o chefe". O chefe por sua vez teria pensado "eu sou o chefe. Aqui está uma ordem que deveis executar sem discussão, porque sois o subordinado. Discutir seria por em causa o meu poder" (Petit, 1998: 47). Para este autor "é inútil insistir no facto de tais situações de comunicação continuarem a ser comuns nas organizações" referindo que não se trata de comunicação recíproca que pressuporia "um jogo de poder entre os actores", uma discussão entre o chefe e o subordinado com o objectivo de "esclarecer as decisões e as acções ulteriores".
As organizações deverão proporcionar momentos de feedback real, já que "people work better they understand what the company is doing and why" (Jefkins, 1998: 141) e segundo Petit (1998: 49) para que "seja percebido como tal, cada interlocutor deve poder retirar uma vantagem tangível da sua participação na comunicação recíproca" e esta "não poderá ser um fim em si, mas simultaneamente um meio – entre outros – e um resultado da transformação da organização" Este tipo de comunicação tem, no entanto, o inconveniente de ser mais lenta do que quando a informação circula num só sentido.
A comunicação tem funções e objectivos que são evidentes e outros que por vezes passam despercebidos.
Rocha (1997) refere que "a comunicação desempenha o papel de coordenador do puzzle organizativo". Concretizando, o autor diz que " não basta uma estrutura e pessoas encaixadas nessa estrutura; para que a organização funcione é necessário que a informação circule". Há necessidade de comunicar para obter conhecimentos e para os transmitir. Só através da comunicação podemos formular opiniões e juízos acerca da realidade que nos rodeia e que vai evoluindo (Fachada, 2000), mas também é através da comunicação que persuadimos e motivamos, procurando assim ajustar atitudes e comportamentos (Dias, __).
Por outro lado a comunicação é imprescindível para promover a transmissão de geração em geração, a nossa herança social e cultural, permitindo que aconteça o processo de socialização. O último aspecto a que Fachada (2000: 53) se refere tem a ver com a distracção. Para a autora esta função “será tanto mais diversificada e utilizada quanto mais elevada for a qualidade de vida dos grupos”. Mas a comunicação também serve para evitar conflitos, como refere Fonseca (2000:142) "um dos principais motivos que estão na origem dos conflitos na organização é a ausência de uma política de comunicação e de difusão de informação a todos os níveis". Para Petit (1998: 35)  "a comunicação revela-se indispensável ao funcionamento da organização para assegurar a eficácia do seu sistema técnico, a manutenção de um mínimo de interdependência entre os diferentes elementos (…) do seu sistema interno" e a comunicação é imprescindível para que ocorra abertura da organização ao meio  e, para Price (1997), a "effective communication facilitates coherence". Não podemos esquecer, tal como refere Citeau (2000), que a comunicação permite restaurar a confiança e promover o conhecimento em torno da organização, para além de favorecer a expressão do pessoal e fazer conhecer as iniciativas e o sucesso das equipas de trabalho. Já Díaz refere que as escolas eficazes conjugam várias características e entre elas refere a "comunicação máxima entre professores e alunos" (2003:17).

A comunicação mostra-se imprescindível para o bom funcionamento das organizações. 
Extrato de :
A COMUNICAÇÃO DOCENTE NOS AGRUPAMENTOS DE VILA NOVA DE GAIA
Autor : Henrique Manuel Salgado Almeida
Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de mestre em Ciências da Educação
 - Especialização em  ­­­­­­­­­­­­Administração e Organização Escolar -
2005

Elementos chave do processo de comunicação

         Para que ocorra comunicação são necessários um emissor e um receptor, para além de um canal por onde circule uma mensagem.
O emissor é a pessoa que emite a mensagem, podendo não ser o mesmo que "fonte" que “é a origem da comunicação , o que possui as ideias, intenções e necessidade de comunicar” (Fachada, 2000 : 23). O emissor pretende “ dar uma informação ou modificar um comportamento e as atitudes da pessoa a quem dirige a mensagem” (Ferreira: 2001). Para conseguir esse objectivo o emissor terá que codificar a intenção, originando uma mensagem. Nas organizações "os emissores podem ser os gestores, os não gestores, os departamentos ou a própria organização" (Donnely, 2000: 376).
A codificação é o processo através do qual o emissor traduz as suas ideias, de forma sistemática, num conjunto de símbolos que exprimem a sua intenção, sendo a sua função "atribuir uma forma, através da qual as ideias e intenções possam ser expressas como uma mensagem" (Donnely, 2000: 377). A codificação recorre a um código que é um sistema de regras que confere a determinados sinais um valor (Eco, 1972); é uma característica comum aos indivíduos, grupos e organizações (Katz, 1987: 249), sendo necessário que, para que o receptor compreenda o sinal, domine o código, já que extrai o sentido a atribuir à mensagem do código e não da própria mensagem. Qualquer emissor tem um “processo característico de codificação, um conjunto limitado de categorias de codificação” que “impõem omissão, selecção, refinamento, elaboração, distorção, e transformação” (Katz, 1987: 249), quer para a informação transmitida quer para a recebida. Segundo Hyman-Sheatsley (in. Wolf, 2003 : 36) " a natureza e a grande exposição do público ao material informativo são em grande parte determinados por características psicológicas da própria audiência" e Wolf refere que tal reflecte o interesse em obter a informação, a exposição selectiva provocada pelas atitudes já existentes, a interpretação selectiva e a memorização selectiva. O que à partida parece só se aplicar ao indivíduo, tem aplicação nas organizações que ao possuírem os seus próprios sistemas de codificação, “determinam a quantidade e tipo de informação que recebem do mundo externo e sua transformação em conformidade com as suas propriedades decorrentes do sistema” (Katz, 1987: 250). Assim sendo, o membro de uma dada organização tem uma visão diferente de outro qualquer sujeito que não pertença à organização, e por isso, possui um conjunto de normas e valores diferentes por não estar integrado na sub cultura daquela organização. O emissor deverá esclarecer convenientemente a sua mensagem, codificá-la da forma mais clara possível, ter em consideração a pessoa ou a audiência a quem se vai dirigir, assim como o local onde vai ser feita a comunicação, pensar no meio que vai utilizar e não se esquecer de ter em consideração o ambiente mais propício para a realizar (Bothwell, 1991) e porque não pensar em que, tal como refere Breton (1992:31), pode ser perturbada pela Natureza ou pelas "tarefas de homens obstinados em mudar a força do seu significado".
A mensagem resulta da codificação, é "o que a pessoa espera comunicar" e "para que seja eficaz, deve conter todos os factos que os emissores considerem necessários para alcançar o efeito desejado" (Donnely , 2000 : 377).
A mensagem pode ser “verbal, escrita e não verbal” (Ferreira, 2001: 358). Para que a mensagem chegue ao receptor é necessário um canal que segundo Fiske (2002: 34) é o “meio físico pelo qual o sinal é transmitido”, ou segundo Fachada (2000: 23) “é o suporte que serve de veículo a uma mensagem” e para Teixeira (1998: 159) “o canal de transmissão é (…) o meio através do qual as comunicações são transmitidas entre as pessoas”. Surgem, como exemplos de canais, as ondas de luz e de rádio, os cabos telefónicos, o ar, a voz, a rede de televisão, o fax, o correio. A escolha de um deles é muito importante “porque diferentes pessoas podem ter diferentes competências na utilização de diferentes canais e diferentes mensagens têm adequações distintas a diferentes canais” (Ferreira, 2001: 359).
Os canais de comunicação podem dividir-se em formais e informais. Os primeiros “correspondem às linhas da hierarquia da organização formal” (Teixeira, 1998: 161), enquanto que os segundos transmitem informações entre os indivíduos da organização que se situam no mesmo nível hierárquico. Por vezes o canal pode ser uma fonte de perturbação da mensagem e ser responsável por alterações, deturpações, erros, a que Wolf (2003:114-115) se refere como problema do ruído, que pode ser devido a uma informação parasitária ou uma perda de sinal.
A mensagem chega ao receptor ou receptores, aquele ou aqueles que recebem a informação que lhes é transmitida. O receptor tem que descodificar a mensagem e promover o feedback, para que o emissor tome consciência do resultado final do processo. No processo de descodificação estão uma vez mais envolvidos os factores atrás descritos para a codificação, que podem ser responsáveis por perturbações na mensagem, daí que o feedback seja de extraordinária importância. Por sua vez após a captação da mensagem, o material atribuído a uma fonte credível provoca uma mudança de opinião significativamente maior do que o atribuído a uma fonte pouco credível (Wolf, 2003).

Em todo o processo de comunicação podem surgir ruídos, entendendo ruído como "qualquer factor de interferência que, quando presente, pode distorcer a mensagem pretendida" (Donnely, 2000: 379).
Extrato de :
A COMUNICAÇÃO DOCENTE NOS AGRUPAMENTOS DE VILA NOVA DE GAIA
Autor : Henrique Manuel Salgado Aleida
Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de mestre em Ciências da Educação
 - Especialização em  ­­­­­­­­­­­­Administração e Organização Escolar -
2005

Características dos circuitos de comunicação


Quando falamos em comunicação estamos a envolver mais do que uma pessoa e, muitas vezes, mais do que um grupo. Entre as pessoas ou entre os grupos estabelecem-se estruturas que permitem a comunicação, que correspondem a arranjos dos canais, já que "numa organização é impossível que cada indivíduo ou cada unidade de trabalho possa comunicar com todos os outros" (Petit, 1998: 54). Segundo o mesmo autor, isto acontece essencialmente pela limitação dos suportes de comunicação, pela limitação das possibilidades cognitivas e operatórias do indivíduo e pelo imperativo organizacional, segundo o qual as informações pertinentes devem passar pelos centros de decisão. Ora, quando pretendemos melhorar a comunicação numa organização, segundo Gondrand (1983:70), “ont doit, logiquement, commencer par une analyse du foncionement des réseaux de comunication”, e para o mesmo autor, devemos comparar o que se passa na realidade com o que a direcção pretenderia. A forma como a informação circula e o tipo de estrutura escolhida podem relacionar-se positivamente ou negativamente com a eficácia da comunicação. Ferreira (2001) aponta quatro tipos de redes de comunicação, como sendo os principais: o círculo, a roda, a cadeia e o todos-com-todos, enquanto que Teixeira (1998) aponta ainda a rede em Y.
No quadro que se segue apresentam-se os vários tipos de redes de comunicação bem como a sua descrição e, comparativamente, algumas características.

Tabela: Características das redes de comunicação. (Adaptado a partir de Teixeira, 1998).


Descrição
Veloci-dade
Rigor
Satisfação dos membros
Emer-gência de liderança
Centra-lização
Em roda.
Os membros do grupo comunicam apenas e sempre através de um único membro, o qual ocupa portanto uma posição central.
Elevada

Bom

Reduzida

Sim

Sim

Em Y.
A comunicação percorre, nos dois sentidos, os diversos níveis da hierarquia sem possibilidades de comunicação horizontal.
Lenta

Razo-ável

Reduzida

Sim

Sim

Em cadeia.
Apenas permite a cada membro comunicar com o que o antecede ou precede.
Lenta

Razo-ável
Reduzida

Sim

Mode-rada
Em círculo.
É uma cadeia em que o último membro comunica com o primeiro fechando-se o círculo.
Média

Bom

Elevada

Não

Não

Em interli-gação total.
Todo e qualquer membro do grupo pode comunicar com qualquer outro membro do mesmo grupo.
Lenta

Redu-zido

Elevada

Não

Não





















Analisando cada tipo de rede podemos concluir que no caso da roda, onde a informação passa sempre por um elemento que a redistribui, a comunicação ocorre “com um elevado grau de rapidez e rigor” (Teixeira, 1998: 165) mas “o nível de satisfação que desenvolve nos membros do grupo é reduzido” (idem: 165). Neste tipo de rede é clara a importância do elemento que redistribui a informação e é característica de sistemas com “estruturas centralizadas em que a liderança se caracteriza por um elevado grau de autocracia” (Teixeira, 1998:). A rede em Y tem problemas relacionados com a comunicação horizontal e é uma rede muito hierarquizada. No caso da rede de comunicação em cadeia cada elemento só pode comunicar com o que o antecede ou precede. É um tipo de rede que se caracteriza pela lentidão e pela emergência da liderança. Se este tipo de rede se fechar temos uma rede em círculo, neste caso é melhorada a velocidade, o rigor e a satisfação (Teixeira, 1998) no entanto pode, durante a circulação da mensagem, ocorrer alteração da mesma derivada de "factores psicológicos, tais como: a recepção viciada, o esquecimento parcial, a própria interpretação da mensagem ou a sua distorção, em função daquilo que se desejaria que fosse o conteúdo efectivo" (Rosa, 1994: 171). O último tipo de rede a que se refere Teixeira (1998: 165-166) é “em interligação total”. Nesta situação todos os elementos comunicam com todos, o que leva a uma diminuição da velocidade e rigor, assim como à não existência de liderança e centralização. Apesar destas características, a satisfação é elevada. Já Rosa (1994) refere que, quando a interligação total ocorre entre elementos altamente qualificados, consegue-se a máxima eficiência.
Numa organização, ou num grupo, podem coexistir mais do que um tipo de rede podendo assim beneficiar das características que cada uma delas apresenta.
Ferreira (2001: 367) faz também uma apreciação à eficiência de cada uma destas redes, referindo que há estudos que revelam “que em tarefas simples, as configurações mais centralizadas, como a roda e a cadeia, aumentam a eficiência do grupo”, no que se refere às tarefas complexas, “as configurações mais descentralizadas, como o círculo e todos-com-todos [correspondente à interligação total de Teixeira] conduziam a soluções de maior qualidade”. O mesmo autor assinala o treino como factor determinante para as diferenças já que, segundo ele, “ao fim de algum tempo de treino, nenhuma das redes de comunicação se revela claramente superior às outras na influência do grupo” e aponta como factores mais decisivos do desempenho do mesmo, o tamanho e o tipo de tarefa. Já Leavitt (1951) verificou que a roda é mais eficiente para o cumprimento da tarefa. Segundo Katz (1987:260) trabalhos posteriores de Guetskow e Simon relacionaram essa eficiência com o tempo de aprendizagem, isto é, tal como já referimos, o factor determinante pode ser o treino. O mesmo autor refere que Guetzkow e Dill, das experiências que fizeram, concluíram que os grupos pareciam preferir sistemas com um mínimo de ligações e dentro dos grupos eram geradas pressões para que ocorresse a redução do número dessas ligações. Os grupos conseguiam mais eficiência no cumprimento da tarefa quando o sistema de comunicação era simplificado, no que diz respeito ao número de ligações, a " rapidez e a qualidade de execução, como o moral dos indivíduos, ganham sempre que os centros de decisões se aproximam das fontes de informação" (Petit, 1998: 57). Para Gondrand (1983 : 70) também é “évident […] qu’un nombre excessif de relais multiplie les risques d’une information tronquée, altérée ou modifiée, en fonction des filtres, auxquels sont soumis les messages, tant de la part de l'émetteur que du récepteur, des inconvénients dus au codage et ou décodage des messages, des bruits qui altèrent la ligne de communication"   . Por outro lado devemos atender ao que Katz (1987:258) chama “laço”, que é “a quantidade de espaço organizacional coberto por determinada informação”. Se o laço for muito grande, ele poderá envolver pessoas irrelevantes e, se for demasiado pequeno, pode omitir informantes capitais (idem). O laço, no primeiro caso, leva a uma sobre-informação, já que o laço envolve “todos os níveis da organização no lado da transmissão” e, por outro lado, “envolve apenas os dois escalões mais altos no lado do recebimento” (Katz, 1987: 261).
Extrato de :
A COMUNICAÇÃO DOCENTE NOS AGRUPAMENTOS DE VILA NOVA DE GAIA
Autor : Henrique Manuel Salgado Almeida
Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de mestre em Ciências da Educação
 - Especialização em  ­­­­­­­­­­­­Administração e Organização Escolar -
2005